Tradução em contexto - Franz Werfel - E-Book

Tradução em contexto E-Book

Franz Werfel

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Beschreibung

A novela "A morte do pequeno burguês" foi publicada em 1927, mas está ambientada no período após a Primeira Guerra. Com todos os problemas econômicos decorrentes do pós-guerra, como, inflação e desemprego, o protagonista, Karl Fiala, já não sente mais a segurança e a proteção de outrora. No entanto, procura evitar desesperadamente que o futuro de sua família, esposa e filho, seja tão sombrio quanto ao da época em que eles vivem.

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Sumário

Capa

Folha de rosto

Apresentação

Autor e obra - Franz Werfel

Der Tod des Kleinbürgers A morte do pequeno burguês

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Übungen - Exercícios

Respostas dos exercícios (Lösungen)

Pontos de referência

Capa

Sumário

Apresentação

Este é o terceiro volume de uma série intitulada “Tradução em Contexto”, dedicada à apresentação de contos escritos em língua estrangeira com sua respectiva tradução em português do Brasil. O leitor encontrará, juntamente com os textos em língua estrangeira e em português, dicas, comentários e exercícios, visando a uma maior compreensão do texto, oferecendo também uma oportunidade para aprofundar algumas questões consideradas pertinentes tanto no processo tradutório quanto na interpretação do original. Este tipo de publicação favorece uma aproximação mais mediada entre o texto de partida e o de chegada, e pode ser útil para suscitar mais curiosidade dos leitores em relação ao processo de tradução.

A seleção dos textos fundamenta-se em um critério bastante simples: cada volume é dedicado a um conto ou contos, e neste caso a uma novela, de um autor ou uma autora já em domínio público. A escolha do material para o trabalho se deve basicamente à extensão do(s) texto(s), pois são narrativas curtas que podem ser lidas em pouco tempo, bem como aproveitadas para exercícios em sala de aula. Além do tamanho, leva-se em consideração a temática do texto ou algumas de suas características que favoreçam comentários sobre dificuldades da tradução ou questões linguísticas, culturais e de estilo.

Com o desenvolvimento da coleção, serão escolhidos textos de escritores ou escritoras nem sempre muito conhecidos ou conhecidas no Brasil, favorecendo também a introdução de nomes da literatura que, muitas vezes, não são suficientemente divulgados em nossas escolas.

Em cada volume, a tradução passa por várias etapas; neste em que há dois tradutores, o texto foi dividido intercaladamente e cada tradutor iniciou a tradução da parte que lhe coube. Em seguida, realizou-se a revisão da tradução elaborada pelo companheiro de trabalho. Nesse processo, usou-se a ferramenta ‘controlar alterações’, à disposição na barra de ferramentas do programa Word. Esse mecanismo deixou nas margens do texto os diálogos entre os tradutores, com comentários, sugestões de mudança, correções etc. Nessa etapa da tradução cooperativa, registraram-se vários mecanismos e estratégias de tradução em comentários sobre como se pensava qual seria a melhor solução ou até mesmo solicitações para esclarecimentos de possíveis dúvidas etc. Logicamente, em trechos mais problemáticos, intensificou-se a troca de mensagens. Essas marcas ao longo da tradução comprovam-se um excelente material de pesquisa, já que todos os diálogos, dúvidas, processos decisórios podem ser resgatados e estudados em Teoria da Tradução.

Este volume, assim como os demais, traz exercícios que visam à compreensão do texto, bem como ao aprofundamento de alguns pontos considerados importantes no original, e podem tanto ser usados em sala de aula quanto por leitores interessados em aumentar seu conhecimento da língua estrangeira, pois as respostas para cada atividade são dadas no fim do livro. Cada volume vai contar igualmente com uma pequena apresentação do autor, situando-o em seu momento histórico, e dos contos, salientando algumas de suas particularidades.

Autor e obraFranz Werfel

Das Fremdsein ist mein Handwerk

Franz Werfel nasceu em 1890, em Praga, quando a cidade ainda pertencia ao império austro-húngaro, que se esfacela após a primeira Grande Guerra. Era filho de um rico fabricante de luvas. A família Werfel pertencia à comunidade judaica da Boêmia alemã. O autor estudou em escola particular, o que na época era raro, só para filhos de famílias com posses. Em 1909, foi aprovado no exame de admissão para o Ginásio Alemão Stefansgasse, em Praga. Dentre seus contemporâneos, foi amigo de Willy Haas (ainda cedo juntou-se ao círculo literário de Franz Werfel e seus amigos, que se encontravam no Café Arco, em Praga. Escritor, roteirista, crítico literário, jornalista, editor), Ernst Deutsch (famoso ator austríaco de origem tcheca. Atuou em cerca de 42 filmes mudos. Em 1949 trabalhou no filme O Terceiro Homem, de Carol Reed. Rodado em Viena o filme mostra o estado de destruição da cidade após a guerra), Max Brod (escritor, compositor, mais conhecido por ser o responsável pelo testamento de Franz Kafka) e Franz Kafka. Já na escola, publica seus primeiros poemas. Seu romance mais conhecido é Die vierzig Tage des Musa Dagh (Os quarenta dias de Musa Dagh - 1933), traduzido para o português na década de 1990 pela editora Paz e Terra. Trata-se de um romance histórico baseado no genocídio armênio, ocorrido entre 1915 e 1923, pelo império Otomano.

Em 1912, Werfel muda-se para Leipzig, onde trabalha como editor na Kurt Wolff Verlag. Foi editor de grandes poetas em língua alemã tal como Georg Trakl. Nas primeiras décadas do século XX, enquanto morou na Alemanha, conviveu com Else Lasker-Schüler, Martin Buber, Rainer Maria Rilke, entre outros escritores, poetas e intelectuais de língua alemã. Werfel serviu no exército austro-húngaro, no front russo, durante a Primeira Guerra. No verão de 1917, é transferido para Viena, onde trabalhou para o Gabinete de Imprensa Militar junto com Rilke, Robert Musil, Stefan Zweig, Hugo von Hofmannsthal e Franz Blei, notáveis escritores austríacos que serviam como propagandistas. Por meio deste último, conheceu e se apaixonou por Alma Mahler, viúva de Gustav Mahler. Após uma intensa troca de correspondências entre Werfel e Alma, ele declara-se apaixonado. Em 1929 eles se casam e vivem em Viena até perceberem como se tornara perigoso ser judeu em territórios sujeitos à Alemanha nazista. Emigram para os Estados Unidos, onde tornou-se cidadão americano em 1941. Sua obra passa a ser traduzida para o inglês e um de seus romances é adaptado para o cinema. Acaba por morar perto do seu velho amigo Ernst Deutsch, que também emigrara. Morreu em 1945, com 54 anos, de ataque cardíaco.

Marcel Reich-Ranicki, importante crítico literário alemão, considera as obras de Werfel muito diferentes umas das outras. Para esse crítico, Franz Werfel, muito admirado e criticado, é um daqueles poetas alemães que perturbam a vida dos historiadores da literatura, pois seu vasto trabalho é muito desigual. Seus muitos romances e contos, poemas e esboços poéticos, dramas e fragmentos cênicos, ensaios e palestras, reescritas e adaptações não podem ser reduzidos a um denominador comum. Mesmo assim é tido como um expoente da poesia expressionista.

A novela “A morte do pequeno burguês” foi publicada em 1927, mas está ambientada no período após a Primeira Guerra. Nesta época, o movimento demográfico nas nações que sucedem ao Império Austro-Húngaro caracteriza-se por uma forte imigração da população tcheca de origem germânica para Viena. A rápida modernização urbana não é acompanhada pela geração de empregos necessários para a crescente classe média. Com o esfacelamento do império austro-húngaro os militares perdem a utilidade e o prestígio. Muitos tiveram de ser demitidos e se tivessem sorte receberiam um posto como funcionários públicos. Com os problemas econômicos, como inflação, desemprego, que atingiam os países nessa época, até mesmo esses trabalhos são posteriormente colocados em risco. Devido à alta taxa de inflação, o dinheiro perde valor continuamente, razão pela qual mais e mais pessoas optam por manter o dinheiro em casa, porque não podem mais confiar nos bancos. A crescente escassez de moradias também se reflete no trabalho de Werfel. Em muitas de suas obras percebe-se que não apenas a família inteira deve ser acomodada em pequenos apartamentos, mas também parentes e, em caso de necessidade, um quarto ainda pode ser alugado. A novela inicia-se assim: “Era um apartamento de sala, cozinha e um pequeno cômodo no quarto andar de um prédio na Rua Josefstädter, bem próximo dos limites da cidade”. No novo contexto, o protagonista já não sente mais a segurança e a proteção de outrora. Para o Sr. Fiala, os tempos anteriores à Primeira Guerra Mundial eram estritamente regulamentados e a sociedade era estruturada. Essa transformação fica clara logo no primeiro capítulo quando Karl Fiala perde o emprego porque o sobrinho de seu superior precisa de um emprego (“Pech, o administrador geral e chefe de recursos humanos, foi certamente o responsável por sua aposentadoria prematura. Quem sabe se o interesse do tal oficial naquele momento não fosse acomodar um de seus protegidos!?”). Outra mudança que o antigo membro que servia o império vai descobrir é quando ele adoece, porque, sem o conhecimento do porteiro do hospital, dificilmente ele conseguiria um leito no hospital (“Franzl, vá até o Hospital Geral. Fale com Wotawa. Ele é um dos responsáveis pela administração! Ele já está sabendo de tudo! Pergunte se há algum leito livre.”). Esses são, entre outros, alguns exemplos de como o autor representa o mundo de maneira expressionista.

“A morte do pequeno burguês” tem muitas características do expressionismo. Uma das características desse movimento é o clima desolador e deprimente, como descrito na novela. O apartamento é descrito como muito escuro, apenas um aposento está sempre iluminado (“Enquanto isso o Sr. Fiala continua sentado no quarto na penumbra. Ninguém acende a luz. Só se acende a luz na hora da refeição e quando se vai dormir.”). Prevalece sempre um clima de destruição: a doença do Sr. Fiala, o desamparo de seu filho e o declínio social da família, mostrado muito bem em seu apartamento.

O expressionismo foi um movimento muito potente, não só na literatura, mas também na pintura. Na Alemanha, no início do século XX, foi criado o movimento “Die Brucke” (A Ponte) – faz uso de cores primárias fortes e advoga uma ligação entre o visível da realidade e um certo invisível etéreo. O grupo era formado por Kirchner, Heckel, Schimdt-Rottuff, Nolde, Pechstein e pelos pintores russos Kokoschka, Kandinski. Posteriormente surge o Grupo “Der Blaue Reiter” (O Cavaleiro Azul), cujos componentes eram Frans Marc, Kandinsky, Jawlevsky, entre outros.

Outra área em que o movimento expressionista alemão teve um sucesso estrondoso foi no cinema com filmes como: Metrópolis (1927) de Fritz Lang, O gabinete do Dr. Caligari (1919), de Robert Wiene (1922), de Friedrich Wilhelm Murnau. São filmes que trazem para as telas temas sombrios, ambientes urbanos escuros, assustadores e misteriosos, personagens incomuns e apavorantes. Apresentam muitas vezes cenários onde se notam distorções das imagens, maquiagens extremamente pesadas e uma excessiva dramaticidade na atuação.

E para encerrar, pode-se dizer que, em termos de intertextualidade, em “A morte do pequeno burguês” há paralelos com a parábola de Franz Kafka “Diante da lei”, um capítulo de “O processo”. Embora Franz Werfel não seja tão conhecido quanto seu colega, esperamos que a publicação desta novela revele para o leitor brasileiro a qualidade de sua literatura.

Der Tod des Kleinbürgers

A morte do pequeno burguês

1

Die Wohnung besteht aus Zimmer, Küche, Kabinett im vierten Stock eines Hauses der Josefstädterstraße, dicht am Gürtel. Das Ehepaar Fiala schläft im Kabinett, Klara, Frau Fialas Schwester, hat einen Strohsack in der Küche, in der allerdings kein Raum mehr für ein zweites Lager wäre, und Franzl darf sich im Zimmer auf dem Wachstuchsofa betten. Dieses Zimmer geht nicht auf die Straße hinaus, sondern auf einen größeren Lichthof. Aber wenn der lichtspendende Hof seinem Namen auch keine Ehre macht, so behaupten geduldige Anwohner doch, daß in seiner sagenhaften Tiefe ein Akazienbaum sein Fortkommen finde und die Wohnräume zwar finster, aber dafür ruhig seien. Heute übrigens, da frischer Winter die Straßen füllt, hat die Sonne hierher einen Vorstoß unternommen und ein paar fiebrische Flecken Lichts an die Wand des Zimmers geworfen im Augenblick, da es Herr Fiala betritt.

Era um apartamento de sala, cozinha e um pequeno cômodo no quarto andar de um prédio na Rua Josefstädter, bem próximo dos limites da cidade. O casal Fiala dorme no pequeno cômodo; Klara, irmã da Sra. Fiala, em um colchão de palha na cozinha, onde certamente não caberia uma segunda acomodação; e a Franzl resta o sofá impermeabilizado na sala. Desse aposento não se vê a rua, mas um grande pátio interno. Apesar de o pátio iluminado não honrar seu nome, os moradores mais indulgentes ainda assim costumam dizer que uma acácia sempre floresce em sua lendária profundidade e que, apesar de escuros, os apartamentos são silenciosos. Hoje, a propósito, com o ar cortante do inverno nas ruas, o sol ensaiava lançar alguns fracos raios de luz contra a parede da sala no momento em que o Sr. Fiala entra.

Der Mieter mustert seinen Raum nicht unbefriedigt. Andern geht es schlechter. Wie viele liegen auf der Straße! Und Herrschaften, die unendlich höher gestanden haben als er: Offiziale und Majore! Was da geschehen ist in diesen Jahren, wer kann das verstehen?! Stillhalten muß man, das ist das Einzige. Und ein Glück ist es, wenn einer mit Vierundsechzig noch einen Posten hat. Es ist zwar nur eine Halbtagsarbeit, aber die Firma baut täglich ihre Angestellten ab. – Gott ist gnädig und der Lohn eines Magazinaufsehers zu klein zum Abbauen! – Alles geht ja ganz gut. Ein Vierundsechziger und eine Zweiundsechzigjährige haben nicht viel Hunger. Die Klara, das Luder, verköstigt sich in den Häusern, wo sie bedient. Bleibt nur das Unglück mit dem Franzl.

O inquilino examina seu aposento, não sem complacência. Outros estão em pior situação. Quantos estão na rua! Até mesmo autoridades que ocupavam postos infinitamente mais altos: oficiais e majores! Quem poderia entender tudo que acontecera naqueles anos?! Manter-se firme, ficar quieto, é o que importa. É uma sorte que alguém com 64 ainda tenha um emprego. Embora de meio período, a empresa continua reduzindo seu quadro todos os dias. - Deus é misericordioso e o salário de um vigia de armazém é pequeno demais para ser cortado! Está tudo muito bem. Um homem de 64 anos, uma mulher de 62, não sentem muita fome. Klara, criatura esperta, alimenta-se nas casas em que trabalha. Resta, apenas, o infortúnio do Franzl.

Der Gedankenablauf Herrn Fialas, täglich und nächtlich der gleiche, ist an sein Ende gekommen. Und nun schickt er sich an zu tun, was er immer tut, wenn er nach Hause und in das Zimmer tritt. Zuerst geht er zu dem Ständer mit den Pfeifen. Er fährt mit der Hand über die Porzellanköpfe. Niemals hat er Pfeife oder etwas anderes geraucht. Der Ständer ist das Geschenk eines früheren Vorgesetzten, der auf diese Weise seine Wohnung von der ominösen Rauch- und Schmuckgarnitur befreien wollte. Herrn Fiala freuts, die Glasur der Pfeifen zu berühren. Es fühlt sich kostbar und gemütlich an. Man greift bessere und langvergessene Zeiten mit der streichelnden Hand. Von den Ständern weg wendet sich nun der Alte und tritt zum Tischchen, das vor dem Fenster steht. Es ist dem Anschein nach ein Nähtisch, dessen Zweckmäßigkeit durch allerlei kühne Architekturen getrübt ist. So laufen die vier Kanten der Platte in vier Fabeltiere aus, Seepferdchen oder gotischen Wasserspeiern ähnlich. Auf dem Tische liegt aber kein Nähzeug, sondern eine Schreibmappe und daneben eine Löschpapierwiege. Auf diese Wiege stützt sich Herr Fiala ein wenig, als ginge von dem gebildeten Gegenstand ein leises Wohlbehagen aus, das ihn stets erquicken möchte. Die zwei Armsessel hingegen am Nähtisch beachtet er nicht. Denn er steht jetzt stolz vor seiner Kredenz. Sie hat er nicht hergegeben beim Verkauf der anderen Möbel. (Ehedem hatten Fialas vier eingerichtete Zimmer besessen, von denen sie zwei vermieteten.) Die Kredenz kann sich sehen lassen. Mit Säulen, Köpfen, Türmen steht sie da wie eine Festung. Sie stammt noch aus dem reichen Zuckerbäckerhause in Kralowitz, wo er seine Frau hergeholt hat. Wer diese Kredenz sein nennt, ist nicht verloren. Wenn er sie verkauft hätte, wären wohl zwei Millionen Kronen zu dem übrigen Erlös hinzugekommen. Aber man will doch ein Mensch bleiben. Ein schönes Geld hat ja der Verkauf seiner alten Wohnung getragen, Gott sei Dank! Aber wer kann in diesen Zeiten dem Gelde trauen? So dumm war er nicht, wie seine dumme Frau meint, es auf ein Sparkassenbuch zu legen. Was seine zwei Sparkassabücheln wert waren, das hatte er erleben müssen! Wenn das Letzte verlorenging, was würde dann die Zukunft sein, was würde aus der Frau werden, was aus dem Franzl!? Für Marie das Versorgungshaus in Lainz, für den Buben die Anstalt am Steinhof! Was das heißt, weiß Herr Fiala sehr wohl. Haben die älteren Leute nicht immer von den Leiden der Versorgung gemunkelt? So schrecklich soll das Leben draußen sein, daß die alten Menschen aus dem Fenster springen, nur um ein Ende zu machen! ›Tag und Nacht fahren die Leichenwagen hin und her.‹ Wenn das auch nur dumme Geschichten sein mögen, so ist und bleibt das Versorgungshaus Schande. Seinen Eltern, die anständige Leute waren und etwas gehabt haben, will er diese Schande nicht antun. Er war niemals ein Bettler und hatte immer zu essen. Seine Familie soll nicht in Lainz enden!

Esse fluxo de pensamento do Sr. Fiala, que recorre dia e noite, é interrompido. Prepara-se, então, para fazer o que sempre faz quando volta para casa e entra na sala. Primeiro, dirige-se ao armário onde estão os cachimbos. Passa a mão sobre os fornilhos de porcelana. Nunca fumou cachimbo ou qualquer outra coisa. O armário é um presente de um antigo chefe, que queria livrar seu apartamento daquela fumaça e da mobília sinistra. O Sr. Fiala sente prazer em tocar o esmalte dos cachimbos. A sensação é de preciosidade e aconchego. Suas mãos os acariciam, remetendo-o a tempos esquecidos, a dias melhores. O velho então afasta-se do armário e dá um passo em direção à mesinha em frente à janela. Parece uma mesa de costura cuja utilidade foi obscurecida por todo tipo de arquitetura arrojada. Assim, as quatro quinas da placa terminam em quatro seres míticos, semelhantes a cavalos-marinhos ou gárgulas góticas. Sobre a mesa, não há um estojo de costura, mas uma escarcela e ao lado um suporte de papel mata-borrão. O Sr. Fiala repousa suas mãos sobre o mata-borrão, como se esse objeto refinado lhe transmitisse um sentimento gentil e reconfortante. Esse movimento sempre o aliviava. Não presta atenção nas duas poltronas ao lado da mesa de costura, porque agora está orgulhoso diante de sua cristaleira. Dela ele não se desfez, quando vendeu os outros móveis (antes, os Fiala tinham quatro quartos mobiliados, dos quais alugavam dois). A cristaleira é algo para que se pode ficar olhando. Está ali como uma fortaleza, com suas colunas, maçanetas, suas torres. Ainda é da época da luxuosa confeitaria em Kralowitz, onde ele conheceu sua esposa. Um homem que pode reivindicar para si tal cristaleira não está totalmente perdido. Se ele a tivesse vendido, teria provavelmente adicionado 2 milhões de coroas à receita da transação. Mas quem, por tão pouco, abriria mão de sua dignidade? De fato, a venda de seu antigo apartamento rendeu uma boa quantia, graças a Deus! Mas quem pode confiar em dinheiro nesses tempos? Ele não era tão estúpido, como sua esposa insensata imaginava, a ponto de deixar a quantia na poupança. Ele já vira suas duas contas de poupança serem corroídas! Se ele perdesse aquilo que ainda lhe restava, o que seria de seu futuro, o que seria de sua mulher, o que seria de Franzl? Para Marie, o asilo para pessoas pobres em Lainz; para o garoto, o abrigo para jovens em Steinhof! O Sr. Fiala sabe muito bem o que isso significa. Os idosos não cochicham sempre a respeito de suas aflições nas instituições de caridade? A vida ali deve ser tão terrível que eles pulam pela janela só para dar um fim ao sofrimento! “Os carros funerários vão e voltam dia e noite”. Mesmo que sejam apenas fofocas, o asilo é e continuará sendo uma vergonha. Ele não quer envergonhar seus pais, que eram pessoas decentes e sempre tiveram posses. Nunca foi mendigo, tampouco passou fome. Sua família não vai viver seus últimos dias em Lainz!

Hier ist Fiala, während die knorpeligen Hände über den Bord der Kredenz wischen, bei seinem Geheimnis angelangt. Herr Schlesinger hat ihm den Weg gewiesen, Herr Schlesinger, Versicherungsagent bei der ›Tutelia‹, ehemaliger Landsmann und seit Jahren Wohnungsnachbar. Die zufriedene Stimmung Fialas hängt an dem Geheimnis, das er mit Schlesinger teilt. Ein Rest von Unruhe ist wohl der Zufriedenheit beigemischt. Aber sein Kopf ist müd und mürbe, das Mundwerk Schlesingers hingegen rasch und geübt. Und dann, Geheimnisse vor Weibern bewahren, ist das denn eine leichte Sache? Schlesinger hat recht gehabt: Nur sich nichts dreinreden lassen! Das Dümmste an den Weibern ist ihr Mißtrauen.

E foi nesse momento, enquanto limpava a borda da cristaleira com as mãos cartilaginosas, que Fiala começou a pensar em seu segredo. O Sr. Schlesinger mostrou-lhe o caminho, o Sr. Schlesinger, agente de seguros da empresa “Tutelia”, antigo conterrâneo e vizinho de anos. A sensação de autossatisfação de Fiala tem a ver com o segredo que ele compartilha com Schlesinger. No entanto, resta ainda um pouco de ansiedade em meio à satisfação. Mas sua cabeça está cansada e embotada, enquanto a boca de Schlesinger é rápida e treinada. Você acha, então, que esconder segredos das mulheres é uma coisa fácil? Schlesinger tem razão: não as deixe arrancarem nada de você! O pior nas mulheres é a eterna desconfiança.

Herr Fiala reißt sich von der Kredenz los, um seinen gewohnten Zimmerrundgang dort zu beschließen, wo sein Herz sich am wohlsten fühlt, wenn es allein ist.

O Sr. Fiala afasta-se da cristaleira para encerrar seu passeio habitual pela sala, onde seu coração sente-se mais confortável, quando está sozinho.

Ziemlich niedrig hängt die Gruppenphotographie, von uralten Zweigen umkränzt, deren braun-gläsernes Laub den Flügeln riesiger Insekten gleicht. In goldenen Lettern trägt sie den Aufdruck: ›Herrn Karl Fiala, die Beamten der Finanzlandesprokuratur, Wien 1910.‹ Diese Gabe ist keine Gewöhnlichkeit, denn in der Regel lag es nicht, daß die vorgesetzten Herren ihr Bild einem Subalternen zum Geschenke machten. Wie oft dürfte es vorgekommen sein, daß die beiden mißgelaunten Hofräte selbst, mit geduldig-lächelnder Nachsicht zu einem ähnlichen Zweck ihr Antlitz dem Photographen überlassen haben? Aber an der Auszeichnung berauscht sich Herr Fiala jetzt nicht. Auch der Rechtfertigung, die ihm durch diese Photographie zuteil geworden ist, weiht er nur einen flüchtigeren Gedanken als sonst. Schuld an der vorzeitigen Pensionierung ist gewiß der Personaldirektor und Oberoffizial Pech gewesen. Wer weiß, wenn der Herr Oberoffizial damals sein Protektionskind nicht hätte unterbringen wollen!? Mit fünfzig Jahren geht man doch nur gezwungenermaßen in Pension. Und wäre er damals wirklich so krank gewesen, würde er dann heute noch leben? Hätte der Arzt, dem er auf Schlesingers Geheiß sich gestern vorstellen mußte, trotz findigster Auskultation ihn sonst für gesund erklärt? Nun, Gott weiß, ob Herr Pech, der böse Mensch, samt seinem Protektionskind nicht tiefer gestürzt ist als er!

A fotografia do grupo pendia na parede, bem embaixo, adornada com galhos velhos cuja folhagem marrom, brilhosa, parece asas de insetos gigantes. Nela, em letras douradas, está gravado: ‘Ao Sr. Karl Fiala, dos funcionários da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, Viena, 1910’. Isso não é um presente comum, pois, em geral, altos funcionários não se deixam fotografar ao lado de subordinados. Com que frequência você imagina que esses dois conselheiros mal-humorados, com indulgência paciente e sorriso forçado, ofereceriam seus rostos ao fotógrafo com esse propósito? Mas o Sr. Fiala não se emociona muito com essa distinção no momento. Mesmo que a fotografia seja a representação de sua importância de outrora, dedica-lhe agora não mais que um pensamento passageiro: Pech, o administrador geral e chefe de recursos humanos, foi certamente o responsável por sua aposentadoria prematura. Quem sabe se o interesse do tal oficial naquele momento não fosse acomodar um de seus protegidos!? Aos 50 anos de idade, você só se aposenta se for obrigado. Se antes estivesse realmente tão doente, ainda estaria vivo hoje? Será que o médico, a quem ele teve de se apresentar no dia anterior a pedido de Schlesinger, o declararia saudável, depois de uma auscultação das mais engenhosas? Bem, Deus deve saber, se o Sr. Pech, o homem mau, e seu favorecido não estão em pior situação do que ele!

Diese Dinge aber beschweren im Augenblick den Betrachter der photographischen Abschiedsgabe wenig. Er ist leidenschaftlich ins Anschauen der Person vertieft, die zwischen den beiden mageren Hofräten dasitzt, üppig und pomphaft. Diese Person hat als einzige auf dem ganzen Bilde den Kopf bedeckt, und zwar mit einem großen, silberbetreßten Dreispitz. Die Person trägt ferner einen dicken und verschnürten Pelz am Leib, der ihr Ansehen verdoppelt und verdreifacht. Die Manschetten des Pelzes sind goldgebortet wie bei einem General. Zu alledem halten die dickbeschuhten Hände der Person einen langen schwarzen Stab, der mit einer Silberkugel gekrönt ist. Im ganzen wirkt die Person wie ein stattlicheres Ebenbild einer anderen und allerhöchsten Person, die in jenen streng geregelten Zeiten das Reich regiert hatte. Und dieser Mann sollte damals ein Kranker gewesen sein? Er, der ruhig und gemessen aus seiner Portierloge trat, um wachsam fast das ganze Torbild des Amtsgebäudes zu füllen? Er, zu dessen einsamer Höhe die vorbeiwandelnden Schulkinder nur scheu emporblickten, er, der sich schon in seiner Kraft und Herrlichkeit leicht verletzt fühlte, wenn er in Ausübung seines Dienstes von den Parteien nach Stiege und Stockwerk und Büro gefragt wurde? Er, der seine Auskünfte nur mit eisig gedämpfter Stimme gab, nachdem er vorher dem Frager ein schmerzlich-nachsichtiges Ohr geneigt hatte?

Mas, no momento, essas reflexões incomodam muito pouco o espectador da fotografia, seu presente de despedida. Ele está envolvido em um escrutínio apaixonado da personagem, exuberante e cheia de pompa, entre os dois conselheiros magros. Essa pessoa é a única em todo o cenário que tem a cabeça coberta por um grande e brilhante chapéu tricorne adornado com renda prateada. Além disso, a pessoa também usa um pesado casaco de pele trançada, que dobra - ou triplica - seu volume. Os punhos são dourados, como se fosse o casaco de um general. Por último, suas mãos com luvas volumosas seguram um longo cajado preto, coroado com uma bola de prata. No geral, a pessoa assemelha-se a uma imagem ainda mais imponente do que a de um superior, que costumava governar o império em outros tempos com regras mais rígidas. Estaria esse homem talvez já doente naquele momento? Ele, que saiu calmo e obedientemente da guarita para vigiar quase todo o portão do prédio da administração? Ele, para cuja grandeza solitária os alunos que por ali passavam timidamente erguiam os olhos; ele, que no cumprimento de suas funções já sentia como uma espécie de insulto ao seu poder e reputação o fato de ser abordado por pessoas com insignificâncias a respeito de escada, piso e escritório? Ele, que prestava informações em uma voz friamente controlada somente depois que, com tolerância angustiada, se esforçava para prestar atenção a quem lhe perguntava?

Herr Fiala saugt den Nachhall dieser Majestät ein. Er denkt nicht daran, den alten abgeschabten Menschen, der vor dem Bilde steht, in Beziehung zu setzen zur breiten Prachtgestalt von einst. Die Prachtgestalt und der Magazinaufseher heute, der im geflickten Kittel von Anno dazumal schlottert, das ist zweierlei Menschheit. Nur daß diese beiden Wesen dieselbe Barttracht noch tragen! Aber wer dürfte den weitausgezogenen, selbstbewußten Kaiserbart des Uniformierten vergleichen mit den demütigen Bürstenbüscheln rechts und links, die heute dünn und grau von den Backen hängen?

O Sr. Fiala desfruta da reverberação dessa majestade. Em momento algum lhe ocorre relacionar o velho esfarrapado diante da foto com a figura imponente e magnífica do passado. Aquela figura imponente e o vigia de armazém atual, que, nesta época do ano, cambaleia, tremendo, com o avental remendado, são duas pessoas totalmente diferentes, exceto pelo mesmo estilo de barba! Mas quem poderia comparar a barba imperial, rebuscada e imponente do homem uniformizado, com os ralos tufos de cerdas à direita e à esquerda, que brotam hoje finos e cinzentos nas bochechas?

Fiala selbst tut es am allerwenigsten. Er schaut nur und schaut. Das Bild ist ein Altar. Kraft und Freude strömt es aus. Darum auch schämt er sich und hat immer Angst, in seiner Versunkenheit betreten zu werden. Auch heute und jetzt dreht er sich furchtsam um, ob die Tür zur Küche nicht plötzlich aufgehe.

O próprio Fiala é o último a fazer essa comparação. Ele fica apenas olhando e olhando para a foto. A imagem é um altar. Dela emana poder e alegria. É por isso que ele sente vergonha e sempre tem medo de ser dragado por seus devaneios. Ainda hoje ele se vira com medo de que a porta da cozinha se abra de repente.

Und nun erst gewahrt er, daß eine festliche Veränderung in seinem Zimmer vorgegangen ist. Denn der Tisch vor dem Wachstuchsofa ist gedeckt. Mit einem feinen roten Kaffeetuch gedeckt. Servietten liegen sogar auf und die schönen Tassen sind hervorgeholt, die der Schwiegermutter gehört haben, der Zuckerbäckerin in Kralowitz.

Somente então ele percebe a solene mudança na sala. A mesa em frente ao sofá impermeabilizado está arrumada. Coberta com uma fina toalha de mesa vermelha. Guardanapos e as lindas xícaras, que pertenceram à sogra, à confeiteira de Kralowitz, estão sobre a mesa.

»Wo die Weiber das Zeug nur immer versteckt haben?«

“Onde será que as mulheres escondiam todas essas coisas?”

Solch eine Frage etwa will in Fiala entstehen. Aber es kommt nicht dazu. Sondern eine Wolke angenehmen Gefühls, rötlich fast wie das Kaffeetuch, umnebelt ihn. So war es ja immer gewesen, sonntags, ehe der Krieg kam. Was ist denn geschehen? Diese Tassen, diese Servietten, dieses Tischtuch, das ist ja die Auferstehung des Mannes auf der Gruppenphotographie in all seiner pelzverbrämten Kraft.

Essa pergunta começa a ganhar forma na mente de Fiala, mas não chega a ser totalmente formulada. Em seu lugar, envolve-o uma névoa de sensações agradáveis, quase tão vermelha como a toalha de mesa. Sempre fora assim, aos domingos, antes da guerra. O que acontecera? Essas xícaras, esses guardanapos, essa toalha de mesa, é a ressurreição do homem na fotografia do grupo com todo o seu poder guarnecido por peles.

Herr Fiala, noch immer fassungslos und rosig umwölkt, gibt sich ungläubig dem Traum hin. Das Geheimnis, der Pakt, durch Schlesinger getätigt, durch ärztlichen Machtspruch besiegelt, steigert die Freundlichkeit des Augenblicks. So kann man doch noch auf ein anständiges Ende hoffen. Dies und Jenes ist da. Feine Tischwäsche darunter. In ihrer sauberen Faltung ruht aufbewahrt die alte Zeit, da man groß und gesund in einem Tor stand, da alles umsonst war und kein Mensch Entbehrungen kannte. Mit Gottes Hilfe wird alles wieder so werden, wie es gewesen ist. Das Versorgungshaus wirft keinen Schatten mehr über den Weg, und auch der Franzl wird immer soviel besitzen, daß er nicht in eine Anstalt muß.

O Sr. Fiala, ainda atordoado e corado, entrega-se, incrédulo, ao sonho. O segredo, o pacto, efetuado por Schlesinger, legitimado pelo poder da autoridade médica, intensifica o prazer do momento. Não é que ainda se pode esperar por um final decente. Está tudo ali. Há a bela toalha de mesa. Em suas dobras imaculadas, preservam-se os velhos tempos, aqueles dias em que se costumava ficar imponente e saudável nos portais das casas, quando tudo era gratuito e não se conhecia privação. Com a ajuda de Deus, tudo voltará a ser como antes. O asilo para pobres não lança mais sombra sobre o caminho, e Franzl também terá sempre o suficiente para não precisar ir para um abrigo.

Nota de tradução: Nenhuma tradução pode ser uma cópia linguística do texto de partida. Há sempre diversas possibilidades que a língua de chegada nos oferece. No caso do título desta novela, poderíamos ter feito outras escolhas, por exemplo: A morte de um pobre homem, A morte de um cidadão comum, A morte de um cidadão medíocre etc. No sexto capítulo da novela, voltaremos a essa discussão. ↩

Nota linguística: Períodos compostos construídos com zwar ... aber, em alemão, expressam uma restrição: primeiro você faz uma declaração que cria a expectativa de uma certa presunção. Em seguida, limita-se esta declaração. Quando se diz Es ist zwar nur eine Halbtagsarbeit, …, admite-se certamente que o trabalhador não poderá ser demitido em virtude da natureza do emprego (meio período), mas logo se afirma algo que não se encaixa necessariamente nessa suposição (aber die Firma baut täglich ihre Angestellten ab): a empresa continua reduzindo o quadro de funcionários, ou seja, existe, sim, a possibilidade de ele ser demitido. ↩