Gata Selvagem - Barbara Cartland - E-Book

Gata Selvagem E-Book

Barbara Cartland

0,0

Beschreibung

Quando eu me casar", gritou Zenka, "vou me casar por amor e não vai ser nenhuma Rainha ou qualquer outra pessoa, que me vai persuadir do contrário." O seu juramento era tão desafiador quanto corajoso e inútil, pois a Rainha Vitória já havia decidido o seu destino, ela, a Princesa de cabelos de fogo, se casaria brevemente com o Rei Miklos de Karanya. Zenka deparou-se com duas escolhas horríveis: o de seguir os desejos de Sua Majestade e casar sem ser por amor, ou passar o resto da vida dentro de um convento. A Rainha poderia forçá-la a casar-se com o Rei Miklos, mas ela teria a sua vingança desejada, pois faria o Rei amá-la, e então, quando este estivesse rendido, o atacaria impiedosamente com todas as suas armas. "Ele terá exatamente o tipo de esposa que merece… indomável e selvagem ... terá ao seu lado, uma verdadeira gata do inferno!

Sie lesen das E-Book in den Legimi-Apps auf:

Android
iOS
von Legimi
zertifizierten E-Readern
Kindle™-E-Readern
(für ausgewählte Pakete)

Seitenzahl: 173

Das E-Book (TTS) können Sie hören im Abo „Legimi Premium” in Legimi-Apps auf:

Android
iOS
Bewertungen
0,0
0
0
0
0
0
Mehr Informationen
Mehr Informationen
Legimi prüft nicht, ob Rezensionen von Nutzern stammen, die den betreffenden Titel tatsächlich gekauft oder gelesen/gehört haben. Wir entfernen aber gefälschte Rezensionen.



GATA SELVAGEM

Barbara Cartland

Barbara Cartland Ebooks Ltd

Esta Edição © 2021

Título Original: “The Hell Cat and the King”

Direitos Reservados - Cartland Promotions 2021

NOTA DA AUTORA

O homem, vivendo atarefado na era da mecanização, perdeu de vista a fé que sempre orientou os povos primitivos.

Quem viveu entre os nativos, na África, Índia ou em outras partes isoladas do mundo, compreendeu que esses nativos conseguem realizar verdadeiros milagres porque acreditam no poder da mente e em seus deuses.

Mas nem mesmo um feiticeiro, na África, pode evitar que uma pessoa morra se essa pessoa já pôs em sua mente que morrerá. Os vodus da América do Sul podem ensinar muitas coisas extraordinárias àqueles que se dispuserem a ouvi-los.

Os soldados que serviram na Índia no tempo do domínio inglês foram testemunhas de que muitos indianos tinham o poder de saber que um parente havia morrido, estando a centenas de quilômetros de distância.

O que esses povos usam é seu instinto, ou o que os egípcios chamam de «terceiro olho». Muito do que chamamos de «clarividência» é apenas o instinto que todos nós temos e que, se desenvolvido e usado corretamente, pode nos servir de inspiração e proteção.

CAPÍTULO I 1887

—Tantos parentes se enjoam— observou a Princesa Guilhermina.

Sua prima, Zenka, virou-se e olhou-a, com um sorriso. Sabia que Guilhermina tinha sempre alguma coisa desagradável para dizer, mas seria difícil alguém achar uma falha no almoço do Jubileu de Ouro da Rainha, do qual participavam mais de sessenta de seus parentes.

Para dizer a verdade, Zenka achava-o muito excitante, depois da vida calma que levava na Escócia.

O Rei da Dinamarca tinha sentado à direita da Rainha Vitória; o Rei da Grécia, à esquerda, e o Rei da Bélgica, em frente. As peças da baixela de ouro no centro da mesa davam ao ambiente um brilho dourado.

—Era de se pensar que, no meio de tantas celebridades, haveria alguns rapazes para nós— disse Guilhermina com sua voz feia, gutural.

Zenka disfarçou um sorriso. A prima tinha quase trinta anos de idade, e durante os últimos dez anos havia vasculhado as cortes da Europa em busca de marido. Como era gorda, muito feia e com modos irritantes, os príncipes tinham o dom de desaparecer assim que ela surgia. Qualquer entendimento procurado por sua família a respeito de casamento cessava bruscamente, logo que o nome de Guilhermina era pronunciado.

Não querendo ser desagradável, Zenka sentou no sofá ao lado dela e disse:

—Há alguns solteiros na festa. Que me diz de Louis William de Baden?

A outra olhou-a, com ar severo.

—Louis William está noivo e esperando apenas que passe o Jubileu para anunciar o noivado.

—Não sabia disso. Então, só nos resta o Príncipe Devanongse de Sião!

—Francamente, Zenka, você é ridícula! Tenho certeza de que ele já tem um harém completo.

—Acho que é muito provável. Por outro lado, não creio que um Jubileu de Ouro seja um bom lugar para se procurar marido.

—A Rainha é conhecida como a “casamenteira da Europa”. Se eu tivesse coragem, discutiria sobre o meu com ela.

Zenka riu.

—Sei muito bem que você não tem coragem para isso. Nenhuma de nós tem.

Enquanto falava, pensou que a Rainha Vitória era de fato muito assustadora. Todos sabiam que o Príncipe de Gales tremia, sempre que a mãe mandava chamá-lo à sua presença.

Sua vontade era lei, e ela havia mesmo alterado o regulamento em relação ao Jubileu de Ouro. Obstinadamente, se recusava a usar os trajes oficiais por ocasião da cerimônia do Dia de Ação de Graças na Abadia de Westminster, que ia se realizar no dia seguinte.

O Primeiro-Ministro argumentou com ela, e, quando finalmente a Princesa de Gales foi designada pelos outros filhos para suplicar-lhe que mudasse de ideia, ela saiu da sala precipitadamente.

—Nunca fui tão desacatada!— disse aos que esperavam por seu veredito.

Ninguém conseguiu convencê-la a não usar touca.

A Rainha sabia muito bem que Lorde Halifax tinha dito que o povo queria ver coisas bonitas, pelo que pagava. Chamberlain disse que «um soberano devia ser magnífico». Lorde Roseberry, mais severo do que os outros, afirmou categoricamente que um império devia ser «governado por um cetro e não por uma touca».

Fossem quais fossem os argumentos, a Rainha não os ouviu. No dia seguinte, ela se dirigiu para a abadia usando touca, tendo dado ordem às suas damas de honra que usassem «toucas com vestidos longos sem manto».

Mesmo assim, foi impossível não admirar sua segurança e altivez, quando seguiu pela nave, ao som de uma marcha de Haendel.

Primeiro veio a colorida Cavalaria Indiana; depois, os membros da família real: três filhos, cinco genros e nove netos.

A multidão ficou encantada com o Príncipe herdeiro da Alemanha, de barba dourada e com trajes em branco e prata. Com uma águia no quepe, parecia um herói medieval.

Seus parentes sabiam que ele havia perdido a voz e murmuravam que tinha câncer na garganta.

A cerimônia foi longa, mas imponente. Depois, as Princesas beijaram a mão da Rainha e todos acharam que estavam muito bonitas.

O almoço, servido por volta das quatro horas, foi quase uma réplica do oferecido na véspera. Depois haveria distribuição de presentes, no salão de baile.

—Lá vem Sua Majestade!

Zenka levantou, quando a Rainha entrou na sala, seu vestido de seda preta farfalhando ao passar por entre os convidados e os parentes.

Bem mais tarde, depois do jantar ao qual a Rainha compareceu, usando um vestido reluzente bordado de rosas prateadas, cardos e trevos, Guilhermina continuou sua conversa com a prima.

Os príncipes indianos e o corpo diplomático estavam presentes, usando uniformes bordados a ouro ou turbantes com brilhantes, mas Guilhermina ainda se queixava, quando as duas se dirigiram para o Salão Chinês, para observar os fogos de artifício.

—Espero que haja dança— murmurou.

—Para ser franca, minhas pernas estão doendo de tanto ficar em pé. Oh, olhe aqueles fogos! São maravilhosos! Que mais você pode desejar?

—Se quer saber a verdade, quero casar com um Rei!— respondeu a prima, com a língua solta pelo vinho que tinha tomado no jantar.

—Um Rei?!— exclamou Zenka, divertida—, por que haveria você de querer isso?

—Eu seria uma ótima Rainha! Quando olho para os brilhantes da Princesa de Gales, sei que iriam muito bem em mim!

Zenka sorriu. A Princesa de Gales estava usando uma magnífica tiara de brilhantes e seu colar reluzia sempre que ela fazia um movimento. Além do mais, era a mulher mais bonita da família real.

Vendo-a mover-se pela sala, Zenka achou que mais flutuava que andava. Qualquer coisa em seu pescoço lembrava o de um cisne, e seu sorriso a tornava diferente de todo mundo.

—Guilhermina tem tanta chance de se parecer com a Princesa como de andar pela lua— pensou Zenka, em voz alta.

—Acho que a prima Alexandra aguenta muita coisa.

—Você se refere aos casos amorosos do Príncipe? Todo mundo os conhece, mas a Princesa tem muitas compensações.

—Não sei, não...

—Não há o que saber. E eu lhe digo, Zenka, quero ser Rainha! Não é justo que todo mundo na Europa tenha casado, menos eu!

Havia qualquer coisa de tão amargo em seu tom, que Zenka teve pena dela.

—Deve haver muitos reis e príncipes herdeiros ausentes, hoje à noite. Que me diz de todos aqueles principados e reinos perto de você, em Prussemburgo?

—Os monarcas reinantes são todos casados.

Zenka quebrou a cabeça, procurando lembrar de um que não fosse.

Quase todos os tronos da Europa estavam ocupados por umas das filhas ou netas da Rainha Vitória. Olhou em volta e viu Vicky, a Princesa herdeira da Alemanha; Alice, Grã-Duquesa de Hesse; Beatrice de Battenberg; Helen de Schleswig-Holstein; e inúmeras outras realezas que, todas elas, deviam à Rainha sua posição e o marido escolhido para elas.

«Deve haver alguém», pensou Zenka. Depois, lembrou:

—Já sei, Guilhermina! O Rei Miklos de Karanya não é casado!

Viu, com surpresa, que a outra se contraía.

—Imagine se vou querer casar com aquele homem!

—Por que não? O que ele fez para aborrecê-la?

Zenka sabia que Karanya era um país pequeno, vizinho da Hungria e de Bósnia.

—Ele é bruto, rude, desagradável e tem uma aparência horrível!— disse Guilhermina, quase cuspindo as palavras—, tem rosto deformado e é manco.

—Mas o que ele lhe fez?

—Esteve aqui no ano passado, no baile oficial.

—Oh, esteve? Não me lembro dele.

Isso não era de admirar, porque, no ano anterior, Zenka tinha apenas dezessete anos e teve que sair cedo do baile.

—Que aconteceu?— perguntou, com curiosidade.

—O Rei teve que sentar por causa de sua perna doente. Senti pena dele e procurei me tornar agradável e conversar.

Fez uma pausa, e Zenka viu a cólera de seu olhar, antes que dissesse, as palavras saindo aos borbotões:

—Virei-me por um momento para falar com outra pessoa e ouvi-o dizer a um homem perto dele: «Pelo amor de Deus, tire essa frau gorda de perto de mim. Ela me faz sentir pior do que já me sinto!»

Foi com dificuldade que Zenka reprimiu o riso.

—Isso foi muito indelicado da parte dele, Guilhermina.

—Ele falou na língua de Karanya, de modo que acho que pensou que eu não ia entender. Mas entendi, e resolvi que nunca, nunca mais, falaria com ele.

—Não a censuro.

Ao mesmo tempo, pensou que também não podia censurar o Rei. Sabia quanto Guilhermina era cansativa e que a única razão de ela querer falar com o homem era por ele ser Rei e ela estar decidida a casar com um.

—Fiquei sabendo muita coisa a respeito do Rei Miklos, desde então— disse a prima, com despeito.

—Que foi que ouviu?

—Que há orgias... sim, verdadeiras orgias... em seu castelo em Karanya!

—Que espécie de orgias?

—Não sei exatamente. Mas o primo Frederick falou delas, quando veio nos visitar no Natal.

—Eu não acreditaria em tudo que o primo Frederick diz— observou Zenka—, você sabe que ele é um mexeriqueiro e que obtém quase todas as informações daquela sua mulher horrível.

—Tenho certeza de que o que ele contou sobre o Rei Miklos é verdade.

—A única coisa que sei a respeito de orgias é o que li sobre as dos romanos. Pelo que deduzi, todo mundo se embriagava e rasgava as roupas. Se o castelo em Karanya for igual ao nosso na Escócia, deve ser muito frio para as pessoas tirarem as roupas, façam elas o que fizerem.

Enquanto falava, Zenka percebeu que Guilhermina não estava interessada. Ainda remoía seu ódio pelo Rei Miklos.

—Ele também tem amantes... dezenas de amantes.

—Isso não é de admirar— murmurou Zenka, observando o Príncipe de Gales flertando com uma de suas primas mais bonitas.

Até mesmo na Escócia casos dele eram discutidos; depois que veio para Londres por causa do Jubileu, Zenka não ouviu falar de outra coisa.

Guilhermina ainda estava imersa em seus pensamentos.

—Ouvi o primo Frederick e o Príncipe Christian conversando, um dia.

«Isso significa», pensou Zenka, «que provavelmente escutou pela fechadura». Sabia que a outra tinha esse mau hábito.

—O primo Frederick disse: «Gostaria de saber o que aconteceu com Nita Loplakovoff. Há um ano que não ouço falar nela e era uma das mais sedutoras dançarinas russas que jamais vi». E o primo Christian respondeu: «Creio que ela está tendo um caso muito sério com Miklos de Karanya». E Frederick confessou que ele próprio estava interessado por ela.

Guilhermina parou, ofegante. Zenka disse:

—Tenho certeza de que Nita Loplakovoff, seja ela quem for, não se interessaria pelo primo Frederick.

Cansada das queixas da prima, virou-se para o Duque de Edimburgo, que estava de pé, observando os fogos.

—Foi um dia maravilhoso, primo Alfred.

—Estou contente que tenha gostado, Zenka. Eu tinha medo de que a Rainha se cansasse, mas parece que ela ficou feliz com as aclamações do povo.

—É verdade— disse a Princesa Vitória, que estava perto—, mamãe me disse muitas vezes que tudo foi muito lisonjeiro e ficou encantada com os telegramas.

Zenka percebeu que Guilhermina ia de novo falar com ela e se aproximou depressa de outro grupo.

Era parente de quase todos na sala. Sua mãe, a Princesa Pauline, era inglesa, e seu casamento com o Príncipe Ladislas de Vajda foi muito feliz. Ambos haviam morrido, vítimas de uma bomba atirada por um anarquista.

Isso havia acontecido seis anos antes, e era em ocasiões como aquela que Zenka sentia terrivelmente a falta da mãe. A Princesa Pauline teria gostado tanto de encontrar todos os parentes, pois fazia parte de uma grande família, que agora estava reunida no Palácio de Buckingham, embora ela adorasse sua vida na Hungria.

Zenka também gostava da Hungria, e a princípio achou que nunca se acostumaria a viver fora do país belo e selvagem onde tinha nascido, nem a ficar longe dos cavalos que significavam mais para ela do que os companheiros de sua idade.

Mas o maior amigo de seu pai, o Duque de Stirling, que era também seu padrinho, a havia tomado como pupila e levado para morar com ele, na Escócia.

Ali, Zenka tinha sido muito feliz, até dois anos antes, quando a Duquesa morreu. Um ano depois, o Duque casou de novo. Assim que conheceu a nova Duquesa, Zenka ficou sabendo que tinha encontrado uma inimiga implacável.

A Duquesa Kathleen tinha apenas trinta e cinco anos, sendo muito mais moça do que o marido. Era atraente e teria sido considerada muito bonita, não fosse pela infeliz comparação com a pupila do marido.

Era impossível alguém não ficar atônito quando via Zenka pela primeira vez e, tendo-a visto, não continuar olhando, esquecendo que havia outras mulheres na sala. Zenka tinha o nariz reto da mãe, os cabelos ruivos dos ancestrais húngaros do pai, assim como os grandes olhos de um tom verde-escuro. O rosto delicado e o corpo bem-feito faziam com que qualquer mulher morresse de frustração e de inveja.

A Duquesa Kathleen odiou Zenka desde o primeiro momento. E o fato de a moça, por ocasião do Jubileu de Ouro, ter precedência sobre ela... uma simples Duquesa... nas celebrações, graças a seu sangue real, não a ajudou a apreciar a pupila do marido.

Zenka tinha sido convidada a hospedar-se no Palácio de Buckingham, ao passo que os Stirling haviam sido forçados a abrir sua casa um tanto sem graça, em Hanover Square.

A Duquesa Kathleen achou imperdoável que, na abadia, Zenka se sentasse entre as Princesas reais e fosse convidada aos almoços de família.

Ela e o marido estavam agora presentes, admirando os fogos, mas a Duquesa sabia perfeitamente que tinha sido apenas por causa de Zenka que foram incluídos na lista dos poucos convidados que não tinham sangue real.

O Duque de Stirling aproximou-se de Zenka. Estava magnífico, com seu kilt.

—Cansada?

Gostava muito da pupila e, assim como todos os homens, na festa, achou que a beleza da moça era indiscutível.

—Um pouco, padrinho. Já vai?

—Kathleen está cansada. Fazia muito calor na abadia e estávamos um pouco apertados em nossos lugares.

—A Rainha deve estar exausta. Não se demorou muito apreciando os fogos.

—É verdade. E ela tem um longo dia, amanhã. Com certeza, você vai acompanhá-la a Hyde Park.

—Eu não perderia isso por nada no mundo! Vamos ter bandas militares, jogos e um balão.

—Então, precisa mesmo ir— disse o Duque, rindo—, mas você não vai para Windsor, com a Rainha?

—Não, claro que não. Assim que Sua Majestade sair de Londres, vou para sua casa, padrinho.

—Sim, faça isso.

Nesse momento, a Duquesa chegou.

Usava todas as joias dos Stirling, mas havia em seus lábios uma expressão de descontentamento e o olhar que pousou no rosto de Zenka era duro.

—Suponho que não vá para casa conosco.

—Devo ficar até amanhã.

—Isto certamente lhe dará uma sensação de importância.

Virou-se, sem esperar pela resposta de Zenka. O Duque pôs a mão no ombro da moça.

—Está muito bonita, querida. O Príncipe de Gales me cumprimentou por ter uma pupila tão encantadora.

—Obrigada, padrinho. Eu é que tenho sorte por ter um tutor tão maravilhoso!

O Duque sorriu, deu mais um tapinha no ombro dela e seguiu a esposa, apressado.

No princípio da tarde seguinte, Zenka chegou à casa dos Stirling, em Hanover Square, numa das carruagens reais.

Divertira-se acompanhando a Rainha a Hyde Park e tinha achado graça quando um balão enorme subiu e uma criança gritou:

—Vejam, a Rainha está indo para o céu!

Zenka evitara ficar na companhia de Guilhermina tanto na ida, quanto no passeio pelo parque. Sabia que isso era falta de caridade, mas a outra, com suas queixas incessantes e críticas, era muito cansativa.

Lembrou de uma agoniante visita a Prussemburgo, quando teve de passar uma semana com a prima e seus irmãos e irmãs, que eram igualmente desagradáveis. Felizmente nunca mais tinha sido convidada; principalmente porque o irmão mais velho de Guilhermina lhe deu muita atenção e ela não era um «bom partido». O Príncipe Ladislas podia ter transmitido uma grande beleza à filha, mas não pôde lhe deixar uma grande fortuna. A realeza europeia era muito exigente em relação às esposas para seus filhos e um dote substancial era considerado mais importante do que o dom de virar a cabeça de um homem.

Assim que entrou em casa do padrinho, Zenka percebeu que algo de anormal estava por acontecer. Não sabia por quê, mas às vezes ela era muito sensitiva, quase clarividente. Agora, no saguão feio e sombrio, teve uma sensação de desconforto próxima ao medo.

Apesar de ser um dia quente, sentia frio. Por uma razão desconhecida, teve um louco desejo de fugir. Mas acabou subindo a escada que levava à vasta sala de visitas do primeiro andar.

«Acho que estou cansada», pensou.

Tirou o chapéu de palha, ajeitou os cabelos que tinham ficado achatados e entrou.

A Duquesa Kathleen estava sentada num sofá de encosto duro, perto da lareira, bordando num bastidor redondo. O Duque estava ao lado dela, de costas para a lareira apagada, e Zenka teve a impressão de que ele gostaria de se aquecer, parecendo sentir frio.

Adiantou-se, sorrindo com esforço.

—Já voltei, padrinho. Mais cedo do que eu pensava.

—Prazer em vê-la de novo, Zenka.

Beijou-a, e a moça fez uma reverência para a Duquesa.

—Espero que tenha se divertido com todos os seus parentes elegantes— disse Kathleen, mas notava-se por seu tom de voz que não era isso que desejava.

—Foi uma grande experiência e uma coisa de que sempre me lembrarei. A Rainha esteve magnífica, em Hyde Park. Deve estar muito cansada, após três dias de celebrações.

—Ela é de ferro— declarou a Duquesa. Mas não foi um elogio.

Dito isso, olhou para o marido, como se quisesse chamar-lhe a atenção. O Duque limpou a garganta.

—Sente, Zenka. Tenho uma coisa para lhe falar.

Zenka prendeu a respiração. Então, era verdade o que sentia. Alguma coisa estava errada, mas não podia imaginar o quê.

De novo, sentiu um arrepio. Seus dedos estavam frios. Sentou no sofá diante da Duquesa e colocou o chapéu a seu lado.

—Que aconteceu, padrinho?

—Tive uma rápida conversa com a Rainha, sábado de manhã, depois que ela chegou de Windsor.

Zenka fitava-o, mas o Duque não a olhava, e teve a impressão de que ele estava constrangido com o que ia dizer.

—Sua Majestade, como bem pode imaginar, dispunha de pouco tempo. Precisava ir examinar as flores que tinham sido deixadas no Palácio e também descansar depois do almoço de família.

—Para o qual não fomos convidados— cortou a Duquesa amargamente.

—Não pertencemos à realeza, querida.

—Claro que não. Não, como Zenka!

—Por que é que a Rainha queria vê-lo, padrinho?

Sabia que não gostava que o desviassem do assunto em discussão e, não sendo ele muito vivo, a Duquesa sempre conseguia confundi-lo.

—Era justamente o que eu ia lhe contar. A Rainha me disse que, agora que você tem dezoito anos, resolveu arranjar-lhe um noivo.

Zenka podia ter esperado tudo, menos isso. Ficou imóvel durante alguns minutos e depois perguntou:

—Por que haveria a Rainha de me arranjar um noivo? Não há necessidade de ela fazer isso.

—Você esquece que a Rainha era muito amiga de sua mãe, Zenka. Falou nela e em seu pai com grande amizade. A morte de ambos foi um choque para ela.

—Foi um choque para mim também, mas não desejo que me arranje um casamento e não pretendo casar agora.

—É uma honra, querida, Sua Majestade se preocupar com você.

—Sei disso. Mas quero escolher meu marido, eu mesma. Não vou deixar que arranjem meu casamento, como fizeram com as outras Princesas!

Fez uma pausa e, como o Duque nada dissesse, continuou:

—Ainda hoje, estive pensando nelas, achando que é assustador virem dizer que uma de nós deve reinar algum país obscuro, talvez um do qual nem se conheça. E isso, simplesmente, porque a Rainha acha que é um casamento conveniente para manter aquilo que os diplomatas chamam de «equilíbrio do poder»— o Duque pareceu constrangido—, foi isso que a Rainha disse, padrinho?

—Mais ou menos isso.

Zenka levantou.

—Então, pode lhe responder que não pretendo ser mais uma peça no jogo— atravessou a sala e acrescentou—, sabe como todo mundo ri da maneira como a Rainha manipula as pessoas. Você mesmo achou graça do jeito como arranjou maridos para as filhas e esposas para os filhos. Pois bem, não vou entrar nesse jogo. Não serei manipulada. Pode dizer isso a Sua Majestade, de uma vez por todas.

—Minha querida menina, não é assim tão fácil.

—Por que é que perde tempo discutindo com ela?— interveio a Duquesa bruscamente—, sabe tão bem como eu que ela tem que fazer o que lhe ordenarem. É seu tutor e ela ainda não é maior. É melhor que lhe diga logo que aceitou o pedido de casamento feito a ela pelo Rei.

—Aceitou? Que Rei?— perguntou Zenka.

O Duque não respondeu.

—Que Rei você aceitou para mim? Exijo que me diga!

—O Rei Miklos de Karanya— disse a Duquesa, antes que o marido pudesse responder—, você é uma moça de sorte e devia se ajoelhar e agradecer a Deus por lhe dar a oportunidade de casar com um monarca reinante.

Seu tom era de pura inveja, mas Zenka olhou para o Duque, consternada.